Um convite à luta

02/02/2017 Paulinho Oliveira 0

Não. Não vou iniciar minha participação como colunista deste portal Sem Barreiras com saudações básicas e clichês baratos de quem dá boas-vindas. O momento, sinceramente, não pede isso.

Porque, antes de mais nada, sou jornalista. Infelizmente, o jornalista lida com fatos. Os fatos que norteiam nosso caminhar atual não são nada alvissareiros. E eu, que tento ser bom jornalista, não posso, e nem devo vender ilusão onde não tem, fazer de uma comida estragada o doce mais saboroso. Deixo esse papel sórdido àqueles que têm prazer em fustigar o ódio, propagar a mentira, destruir reputações, manipular marionetes.

O momento atual é dos mais difíceis que eu jamais imaginaria um dia enfrentar.

Não preciso nem voltar muito no tempo. Basta lembrarmos que, na semana passada, o atual Secretário de Segurança Pública e Defesa Social cearense, delegado da Polícia Federal André Costa, disse que um dos caminhos reservados para os criminosos seria o “cemitério” – frase digna de um chamado “homem da lei”. Pouco tempo antes, homens matavam homens dentro de jaulas – chamadas, vulgarmente, de presídios – onde deveriam reaprender a cidadania, mas, ao contrário, eram nada mais que estatística para os poderes públicos e para os cofres das empresas privadas administradoras das penitenciárias.

Para um e outro fato, alguns “homens de bem” invocavam aquele velho chavão de que “direitos humanos, só para humanos direitos”. Esses mesmos chamam-nos – nós, defensores dos direitos humanos para todos – de “defensores de vagabundos”. Esses mesmos acusadores têm audiência assegurada em programas policiais que rendem muitos, mas muitos votos.

Sintoma desses tempos obscuros em que não vivemos mais em uma democracia. Uma presidente honesta e legitimamente eleita foi apeada do poder e sucedida por um crápula e sua gangue de ratos, roubando mais que nosso dinheiro e nosso patrimônio. Roubam, cada dia mais, nossa dignidade, nossa autoestima, nosso prazer de sermos brasileiros. Contam, esses verdadeiros bandidos lesa-pátria, com o apoio de uma mídia que, para eles, bate palmas, enquanto que, para os que vestem vermelho, é reservado o quinhão de notícias falsas, de imagens sensacionalistas e de instigação ao ódio que, cada vez mais, aqueles “homens de bem” destilam contra quem quer que tenha opinião contrária à do atual status quo.

Esse ódio é, hoje, a grande chaga que atormenta o Brasil e nos deixa a todos perplexos. O mesmo ódio que move o discurso do Secretário André Costa é o que critica a atriz Antônia Fontenelle por ter escolhido que seu neto nascesse em um hospital da rede pública do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, é o ódio que move as ações do punhado de gente que execra a figura de Lula – contra quem ainda nada foi provado – e vocifera contra sua primeira-dama Marisa Letícia, apenas porque esta precisou se internar de urgência em um hospital privado.

No momento em que escrevo estas linhas, aliás (madrugada de quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017), Marisa se encontra no ringue do que talvez seja o último assalto de sua luta pela vida. Caso se confirme o prognóstico, será – ouso dizer – mais uma vítima fatal do ódio que assola, cada vez mais, o Brasil, antes um país em que se respirava alegria, samba, vibração e ousadia. Este Brasil que mata, em circunstâncias mui suspeitas, de Teori Zavascki a Eduardo Campos, de Ulysses Guimarães a Juscelino Kubitschek, de João Goulart a Tancredo Neves, de Getúlio Vargas a Chico Mendes. Este Brasil que mata o jornalismo, em prol do sensacionalismo; o bom-senso, em prol do senso comum; a ética, em prol do conchavo; a justiça, em prol do justiçamento; os direitos humanos, em prol do sectarismo e do preconceito.

Como eu disse, o momento é dos mais difíceis que eu jamais imaginaria enfrentar.

Por isso, no lugar das simples boas-vindas, convido você, leitor ou leitora, a virar a mesa e a transformar cada linha escrita por mim em motivo a mais para se indignar e para lutar por uma sociedade melhor de se viver.

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