#pracegover: Arte horizontal nas cores branco e dourado, em degradê, da esquerda para a direita. No alto, à direita, as palavras, em branco com sombra preta, VAMOS CONVERSAR SOBRE. Logo abaixo, em negro, DEFICIÊNCIA? No centro, à direita, a logomarca do site Sem Barreiras, um quadrado em preto e branco, com o símbolo do site ao centro e a faixa, na diagonal dizendo 5 ANOS. Ao lado do quadrado, as palavras SEM BARREIRAS. No canto inferior direito, as palavras, em negro: ÀS SEXTAS-FEIRAS. No canto inferior à esquerdo, a foto de um homem em uma cadeira de rodas, de óculos, segurando um microfone.

Três semanas difíceis e de muito crescimento pessoal

03/08/2017 Articulistas, Deficiência Física, Notícias, Victor Vasconcelos 2

Após longas três semanas, retorno a ocupar esse espaço. A última coluna foi escrita no dia 07 de julho, em que escrevi sobre a falta de acessibilidade na exposição Sana Preview 2017, no Shopping Iguatemi, e que pode ser acessada aqui. Deixei de publicar nos dias 14, 21 e 28 de julho. Assim sendo, inicio esse texto pedindo milhões de desculpas pela ausência e, não se preocupem, irem explicar as razões que me tiraram do convívio com vocês. A primeira sexta-feira sem texto, dia 14, foi em decorrência de absoluta falta de assunto e inspiração. Aquela semana foi morna, fraca e não consegui a inspiração necessária para escrever. Errei, admito, mas aconteceu e, provavelmente, irá acontecer outras vezes. As duas datas subsequentes, contudo, tiveram razões médicas. Dia 17, segunda-feira, sofri uma pequena lesão no meu ombro direito, ainda na cama, à noite. Um mau jeito ao me virar de um lado para o outro que, a princípio, não pareceu ser nada. Passei bem a noite, dormi tranquilamente, mas acordei totalmente diferente. A manhã de terça-feira foi terrível, com muitas dores. Por sorte, terça-feira é dia de fisioterapia matinal e, assim, pude começar o tratamento bem rápido. A recuperação é que não foi tão rápida assim.

Uma lesão no meu braço direito significa imobilização e impossibilidade de fazer quase tudo no meu dia a dia. Não tenho quase nenhuma coordenação motora com a mão esquerda é péssima, dependendo da direita pra quase tudo. Ao perder o braço direito, fiquei sem poder rodar minha cadeira, digitar, usar o mouse, escovar os dentes e até mesmo comer. Pela primeira vez em um ano e meio de fisioterapia, pedi à Camila que viesse duas vezes no mesmo dia, semana passada, porque estava com muitas dores no ombro. Durante esse período, do dia 18 até ontem (escrevo este texto na quinta-feira, 03), me limitei à analgesia e exercícios respiratórios. Nada, portanto, de exercício físico, fortalecimento, musculação. Era só lazer, infravermelho, massagens e TENS (Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea). Para pior a situação, semana passada, desenvolvi uma reação alérgica a alguma coisa (minha casa por mudanças, com muita poeira, tinta e mofo), resultando a acessos terríveis de tosse. O que começou com suspeita de gripe, passou a ser alergia das brabas. O ombro, que já se encontrava em escala descendente, voltou a piorar com a intensidade das crises. Em resumo, foram duas semanas bem agitadas, em que fiquei em casa unicamente me tratando e reduzindo ao máximo o esforço físico do braço direito, o que significa esforço físico do corpo todo.

Explicadas as razões da ausência, quero abordar outra questão. Quem me conhece mais intimamente, sabe as consequências de uma lesão muscular como a descrita em mim, alguns anos atrás. Na coluna de 23 de junho, intitulada Minha tolerância à dor (leia aqui), escrevi sobre os efeitos que a dor física causam em mim, não apenas fisicamente, mas psicologicamente também. Em inúmeras ocasiões, um simples estalo me fazia imobilizar o braço em uma tipoia e assim ficar por vinte, trinta dias. Não permitia que ninguém me tocasse e fazia escândalos ao me levantar da cadeira de rodas. Era algo sinistro. Com o passar dos anos, a incidência desses estalos caiu consideravelmente. Não me lembro exatamente do último antes do dia 17. A diferença desse para os anteriores foi meu comportamento. Ou seja, a forma como eu lidei com a situação. A primeira grande diferença foi não ter apelado para a terrível tipoia. Apesar da dor e da limitação de movimentos, jamais imobilizei totalmente o braço, sempre buscando fazer pequenos movimentos de abrir e fechar a mão ou flexionar até o limite da dor. Outra grande diferença foi o tratamento. Camila pôde usar todo seu arsenal de analgesias em mim, inclusive, apertando o ombro para localizar a fonte da lesão, massageando em busca de nódulos ou mexendo o braço para cima e para baixo, abrindo e fechando, testando meus limites.

Emocionalmente, e posso dizer que me orgulhei de mim mesmo (perdoem a falta de modéstia, mas foi uma vitória pessoal gigante), encarei essa dor de frente e não permiti que ela me vencesse, como acontecia no passado. Hoje, vinte anos depois do auge desses malditos estalos, tenho plena convicção de que mais da metade da dor que eu sentia era de cunho emocional. Eu me rendia e deixava um pânico absurdo tomar conta de mim. A dor escalonava e parecia muito maior do que de fato merecia parecer. Como a própria Camila disse, ao prender o braço na tipoia por cerca de um mês, ele atrofiava e prejudicava ainda mais a recuperação. Uma coisa que eu sempre me perguntei é como as pessoas aguentavam seguir suas vidas com braços e pernas quebradas e eu sequer me mexia com um simples estalinho. Lógico que cada um age de forma particular com as situações, mas entendo atualmente que eu tinha o fator emocional jogando contra mim. Dessa vez, venci o emocional. Por isso, estou me sentindo tão bem comigo mesmo. A idade mais avançada, a dedicação da Camila no tratamento da dor e o fortalecimento da minha musculatura fizeram com que minha recuperação fosse bem mais rápida.

Interessante ressaltar que, antes dessa lesão, me peguei várias vezes pensando em como seria minha reação se sofresse os problemas que sofri na adolescência. Claro que não queria voltar a fraturar, longe de mim, mas me questionei como lidaria com a dor agora aos quarenta anos. Para quem acredita em castigo, é um prato cheio. “Pediu e foi atendido”. Passei no teste e já estou satisfeito, não quero mais testar nada. Por hoje, é só, companheiros. Foram dezessete dias bem difíceis, mas também de grande crescimento pessoal. Farei um esforço para não sumir outra vez. Obrigado pela compreensão e toquemos em frente.

“É assegurada atenção integral à saúde da pessoa com deficiência em todos os níveis de complexidade, por intermédio do SUS, garantido acesso universal e igualitário” (Lei Brasileira de Inclusão – Art. 18)

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2 Comentários

  1. Célia Regina Vieira Bastos 03/08/2017 Responder

    Victor sei é muito difícil mas sempre digo meu e grande maioria portadores osteogenesis imperfeita o limiar as dores é muito alto ou seja mesmo com dores forçamos e continuamos o dia a dia. Realmente a imobilização como diz Camilinha prejudica pela atrofia e aumento das dores e realmente só faço caso fratura como minha recente fratura cirurgias úmero direito.Enfim não vou me prolongar porque como falou também tenho problemas coordenação motora mão esquerda e fratura úmero direito tudo mais forçado. Felizmente está melhor quem sabe um dia vc vai combinar outro almoço del paseo comigo e Camilinha!Bjs❤️

  2. Leandra Migotto Certeza 09/08/2017 Responder

    Querido Victor, desculpe a demora em escrever. Fiquei muito emocionada em ler teu texto, assim como também fiquei no anterior sobre as dores e fraturas. Confesso que nem sei explicar direito o que estou sentindo agora porque cada palavra tua parece muito comigo… Menino, você é super forte e corajoso! Continue firme e nos abrilhantando com tanta sabedoria e bons textos inspiradores! Parabéns pela sua garra!! Abração e aguarde a minha próxima coluna… Leandra.

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