Foto de frente com três pessoas: à esquerda, uma mulher sorrindo, com um garotinho no colo, e papai noel à direita. Ao fundo, várias pessoas passeando em um shopping center

Mãe de menino autista conta experiência do filho ao ver Papai Noel

06/11/2017 Deficiência Intelectual, Notícias 0

Ontem (sábado), o João desregulou. E eu estava sozinha com ele, mas não me senti só. Roberto foi pro plantão e eu decidi ir com o João sozinha pra ver o Papai Noel. Como de praxe, mostrei fotos, vídeos do que ele ia ver no evento para a imprensa e convidados. Sabia que não ia ser fácil, mas fui.

Tudo lindo e mágico, encantadora a decoração e as músicas. Mas, o Papai Noel não chegava. Normal, pois os eventos têm roteiros que precisam ser cumpridos e o João precisa aprender a se regular mesmo que algo não o esteja agradando (e haja explicação, tentativa de desfocar pra outras coisas que ele gostava), mas o tempo foi passando, passando e ele não quis mais esperar. Desregulou. Normal.

A diferença é que, apesar de estar em um evento onde a maioria das crianças não tem deficiência, eu me senti muito amparada. Grandes amigos vinham, ofereciam braço pro João, tentavam conversar com ele, me ofereciam algo pra comer ou beber (não comi nada nem bebi porque não tive como parar – o que sempre ocorre quando um dos dois sai só com ele. Comer é luxo!), enfim…

Saí com ele e pegamos o elevador. Ele chorava muito. Em meio a acalmar meu filho, abraçando ele e tentando me acalmar, vi olhares tortos de reprovação, ouvi comentários iniciando como “tststs” assim que saímos do elevador, mas não parei pra falar nada, pois meu filho era a minha prioridade naquele momento e se tem uma coisa que a gente aprende quando sai com um filho com deficiência (sobretudo, intelectual) é ligar o botão de foda-se pra todo e qualquer olhar de reprovação. (Não é fácil chegar nesse nível e muitas famílias desistem no meio, preferindo ficar em casa ao invés de usar o seu direito de estar em sociedade como qualquer pessoa. Não as condeno, pois sei que cada um tem a sua dificuldade e seus motivos). Levei João no banheiro, acalmei ele, me acalmei, fizemos um acordo só nosso e ele topou. Voltamos pra ver o Papai Noel e ele, ainda chorando, quando viu o bom velhinho, deu um sorriso brilhante.

O que eu quero dizer é que um local acolhedor, com pessoas acolhedoras, nos faz ter a coragem e o amparo para continuar. Eu pensei em desistir e ir embora com ele, mas sabia, sentia o quanto seria bom pra ele se encontrar com o Papai Noel que tanto ama. O resultado é esse vídeo feito pelo amigo Fabio Pedroso e as fotos feitas pela amiga Bia Bocayuva. Minha gratidão também para Kélvia Ribeiro, Ian Gomes, Sabrina Lemos Moura Moreira e Renata Sampaio, que olharam pra mim e me mostraram que eu não estava só. Cara, vocês são foda!

Ele saiu dessa bola maravilhado, feliz demais. Queria ir passear e ganhou um trenzinho. Diz até agora que quem deu foi o Papai Noel quando a gente pergunta. Dormiu com o trem, passou o dia falando “Natal”, “papai noel” e “neve”. Para as amigas Mães de autistas: não podemos desistir! Por mais que seja difícil e olha que desistir não é o nosso forte! Para os amigos pais de neurotípicos: quando virem uma mãe ou pai com uma criança, jovem ou adulto desregulando, que tal se, ao invés de olhar torto, você chegasse oferecendo ajuda? Qualquer tipo de ajuda? Garanto que só essa atitude já faria uma grande diferença para aquele cuidador que está ali tentando colocar seu filho na mesma sociedade que todas as pessoas merecem viver.

E pra terminar. Hoje, ele falou uma frase. A frase que resume tudo: “João viu a neve”. Daí, vocês tiram a importância que isso teve na cabecinha dele. Vamos acolher mais. Vamos respeitar mais. Vamos aproveitar o Natal para fazer como diz a Música: “Um clima de sonho se espalha no ar. Pessoas se olham com brilho no olhar. A gente já sente chegando o Natal. É tempo de amor, todo mundo é igual. Os velhos amigos irão se abraçar. Os desconhecidos irão se falar. E quem for criança vai olhar pro céu, fazendo um pedido pro velho Noel. Se a gente é capaz de espalhar alegria. Se a gente é capaz de toda essa magia. Eu tenho certeza que a gente podia fazer com que fosse Natal todo dia. Um jeito mais manso de ser e falar Mais calma, mais tempo pra gente se dar. Me diz por que só no Natal é assim? Que bom se ele nunca tivesse mais fim. Que o Natal comece no seu coração e que seja pra todos sem ter distinção”.

* O texto foi escrito pela jornalista Helaine Oliveira, que cedeu os direitos para publicação em Sem Barreiras. Helaine é mãe do pequeno João Roberto, que tem autismo, e esposa do também jornalista Roberto Leite. O vídeo citado por ela pode ser visto aqui. Sem Barreiras agradece e parabeniza pela lucidez de suas palavras, Helaine, e por todo o trabalho que você e Roberto vêm fazendo com João.

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