Pessoas com Síndrome de Down têm vida amorosa plena

12/03/2013 Notícias 0
Samantha trabalha como auxiliar administrativo e quer morar sozinha em dois anos

Samantha trabalha como auxiliar administrativo e quer morar sozinha em dois anos

Samanta Quadrado, 25, está investindo aos poucos em um novo relacionamento, iniciado há seis meses. Depois de terminar um namoro de quatro anos, ela quer ir com com calma.  “Estamos nos conhecendo”, conta.  Samanta mora em São Paulo e está “ficando” com carioca Breno Viola, um dos atores do filme “Colegas”, de Marcelo Galvão.

Eles se conheceram na pré-estréia do filme, no Rio, em setembro do ano passado. Desde então, se encontram quando é possível e conversam pelo Skype. “Meus pais sempre apóiam meus namoros. Posso conduzir minha relação sozinha, tenho autonomia”, explica. Ela trabalha como auxiliar administrativo em uma editora, freqüenta grupos de apoio para pessoas com Down e tem planos de morar sozinha: “Daqui a uns dois anos. Já tive muitas conquistas, quebrei muitas barreiras. Será mais uma delas”, diz.

Samanta faz parte de uma geração de pessoas com Down que cresceu mais distante do preconceito e consegue ver o futuro em condições mais igualitárias. O avanço da medicina e o melhor conhecimento das peculiaridades da síndrome permitem que esses jovens estudem, trabalhem e se relacionem mais.

“Percebemos um aumento no número de pessoas com Down que namoram, têm uma vida social boa. Há mais esclarecimento da sociedade, as famílias permitem mais e existem mais oportunidades”, afirma o geneticista Zan Mustacchi, um dos maiores especialistas na Síndrome de Down no Brasil.

O nível mais aprofundado de informação sobre a síndrome reflete até na expectativa de vida, que, em 1929, era de nove anos, em média. Hoje, a previsão é de 60 anos. “Por tudo isso, temos de pensar que eles têm direito a uma vida plena. E essa vida inclui a afetividade e sexualidade. Vejo que ainda existe resistência nas famílias em enxergar que os filhos, embora tenham uma deficiência, devem ser livres para se relacionar”, diz a advogada Maria Antônia Goulart, coordenadora do Movimento Down. “Parece que, quando o filho tem uma deficiência intelectual, surge a certeza nos pais de que ele não terá vida sexual. Até pais mais progressistas negam isso”.

Mas, nem sempre a vida afetiva é perfeita – regra que vale para todos. Pedro Brandão Carrera, 18, sempre estudou em escola regular e se apaixonou por meninas de sua classe sem ser correspondido. Voltava de baladas sem beijar na boca, apesar de paquerar bastante. “Ele chegava em casa chateado, dizendo que não tinha ficado com ninguém”, conta a mãe Ana Cláudia Brandão.

Pedro se considera um cara romântico e está apaixonado pela atual namorada

Pedro se considera um cara romântico e está apaixonado pela atual namorada

Há um ano, conheceu a namorada em um grupo de jovens com comprometimento intelectual e está apaixonado. “Sou um cara romântico, preparo declarações de amor para ela”, conta.

Colaboração dos pais

Ana Cláudia conta que colabora para que o namoro do filho progrida, por exemplo, levando o casal ao cinema. “Nós, os pais, não sabemos se eles vêem o filme ou ficam se beijando”, diz. “Eles precisam que a gente leve e busque. Nesse ponto é mais complicado, porque os pais devem dar uma força para que o namoro dê certo. As descobertas perdem um pouco da naturalidade”, afirma.

Se a evolução do namoro é monitorada, ao menos os planos podem ser feitos a dois. Pedro deseja se casar com a namorada depois que terminarem a faculdade. Ele quer ser chef de cozinha e abrir um restaurante de massas. “Adoro cozinhar e faço um macarrão ótimo”.

Diferentes?

O desejo e a vontade de estar com alguém são o mesmo em todos os jovens. “Tenho um filho adolescente sem a síndrome e percebo que suas questões são as iguais às dos jovens com Down que acompanho no grupo”, diz Maria Antonia. O desenvolvimento da sexualidade ocorre na mesma época, mas nem sempre o amadurecimento emocional acompanha. “Pessoas com Down podem extrapolar e ir além de situações palpáveis, acreditando que é possível ter uma relação com quem não gosta delas ou com um artista. Acreditam nisso de forma ingênua”, diz Zan Mustacchi.

Por isso, a orientação da família é fundamental, não só para evitar decepções como para diminuir riscos de abusos. “Quando o assunto não é tratado, a pessoa com Down perde o referencial. Tudo aquilo que não é dito é fantasiado e isso tende a se distanciar do que se espera no trato social”, diz Goulart.

Os jovens com Down também precisam aprender sobre prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e da gravidez. As chances de concepção de um casal em que ambos têm Down são de 80%, segundo Zan Mustacchi. Quando um dos parceiros não tem a síndrome, o número cai para 50%. Homens com Down podem ser inférteis, mas não é regra. “O fato de haver mais homens com fertilidade reduzida do que férteis não quer dizer que não há possibilidade de gravidez”, diz o geneticista.

Cavaleiro quer competir nos Jogos Olímpicos

Cláudio foi vice-campeão paulista de hipismo em 2009 e sonha com Olimpíadas

Cláudio foi vice-campeão paulista de hipismo em 2009 e sonha com Olimpíadas

Cláudio Arruda, 27, quer competir nas provas de hipismo da Olimpíada de 2016 e, para isso, treina três vezes por semana na Escola de Equitação da Sociedade Hípica Paulista.  Apaixonado por cavalos, pratica o esporte há doze anos e incluiu o animal também na rotina do seu trabalho: desde 2011, atua como instrutor assistente na Hípica do Pônei Clube Brasil. “Os cavalos servem como terapia e devem ativar o melhor lado das pessoas”, explica.

Ele foi vice-campeão paulista de hipismo em 2009, competindo com pessoas sem deficiência. Perdeu o título em 2011 só porque seu cavalo refugou no terceiro dia de provas. Cláudio viaja com freqüência a Bananal, no interior de São Paulo, onde participa de cursos relacionados a seu trabalho. Roda o país também para ministrar palestras em congressos sobre Down e esteve em Nova York no ano passado, quando participou de um lançamento de um livro na ONU sobre comunicação para quem tem algum comprometimento intelectual.

A vida pessoal também vai bem. “Eu faço de tudo. Paquero muito, vou para baladas, shows. Sou fanático por música sertaneja, de Almir Sater a Victor e Léo”, conta. Mas, recentemente, Cláudio teve uma decepção amorosa, com o fim de seu último relacionamento. “Eu cheguei a amá-la. Mas a gente tem que levar a vida, seguir em frente com cabeça erguida”.

* Matéria de Julliane Silveira, do UOL de São Paulo

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