Fidel, sinônimo de Revolução

26/11/2016 Notícias 1
Homem idoso, de cabelo e barba brancas, paletó cinza escura e grava vermelha estampada discursa de frente a um microfone

“As bombas podem matar os famintos, os doentes, os ignorantes, mas não matará a fome, as doenças e a ignorância”, Fidel na ONU em 1979

Quando se fala em Direitos Humanos, o nome de Fidel Castro, normalmente, não é lembrado. Ao menos aqui no Brasil onde ainda perdura a ditadura midiática das seis grandes famílias. A capa da Folha de São Paulo é uma demonstração clara e inequívoca: “Morre o ditador cubano Fidel Castro”. Para a elite míope e ignorante brasileira, Fidel não passa de um ditador assassino e cruel. Além de burra, nossa elite e nossa mídia são também colônias dos Estados Unidos, os maiores inimigos de Fidel Castro e de Cuba. Mas, Fidel é muito mais do que isso. Não concordo com o regime ditatorial e a supressão de direitos na ilha, mas reduzi-lo a esses fatores é injusto e errado. Fidel Castro é maior do que eles, é maior do que preconceitos e ideias limitadas. Fidel e Che Guevara entraram para a História há muito tempo. No momento em que eles desceram a Sierra Maestra para depor Fulgêncio Batista e livrar Cuba da opressão que sofria dos americanos, eles gravaram seus nomes, a fogo, nos anais da história contemporânea.

Certamente, muitos vão ler esse texto e me condenar. Respeito a opinião de todos, mas peço que leiam um pouco sobre a Revolução Cubana e analisem que Cuba erradicou o analfabetismo, a mortalidade infantil, a pobreza extrema e se tornou referência mundial em saúde e educação. Até o final da União Soviética, foi uma potência em esportes olímpicos, pois Fidel acreditava que uma nação era feita a partir de políticas sociais. Um povo educado e que tivesse comida na mesa. Cuba convive, há mais de quarenta anos, com um embargo econômico criminoso dos Estados Unidos, que fez sua economia despencar e a situação piorou consideravelmente. Contudo, jamais abriram mão de seus ideais sociais. Não há luxos nem riquezas na ilha, mas também não há fome nem miséria. Os Estados Unidos exportam tropas de soldados para matar e destruir seus inimigos; Cuba exporta tropas e mais tropas de médicos para aliviar a dor de amigos e inimigos. Essa é a diferença. A seguir, um texto de Emir Sader. Hasta Siempre, Fidel!

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Dois homens idosos, de cabelos brancos, lado a lado e de frente. O da direita, negro, veste uma blusa azul estampada e o outro, um paletó azul

“Sou um homem leal e jamais esquecerei que nos momentos mais sombrios de nossa pátria, na luta contra o apartheid, Fidel Castro esteve ao nosso lado”, Nélson Mandela

Fidel tornou-se sinônimo de Revolução, desde que as fotos daqueles barbudos tinham derrubado a ditadura do Batista, no já longínquo 1959. Mais ainda para nós, na America Latina, para quem a revolução era um fenômeno distante no tempo e no espaço – na Rússia, na China, com Lênin, com Mao. Foi Cuba quem colocou para nós e para tantas outra gerações, a revolução como uma atualidade, apontou que a revolução era possível, aqui mesmo, no nosso continente.

Fidel encarnou a revolução na América Latina, mas também para o mundo todo, porque Cuba levantava de novo a ideia do socialismo, quando este tinha se tornado algo aparentemente petrificado, postergado.

Eu comecei minha militância política em 1959, distribuindo um jornalzinho – Ação Socialista -, que tinha estampada a imagem de uns barbudos, pousando como se fossem jogadores de futebol, que tinham derrubado um ditador – naquela época, da America Central, nem se mencionava o Caribe. Logo minha geração tornou-se a geração da Revolução Cubana, que nos seduziu a tantos, com a convocação dos estudantes para acabar com o analfabetismo em Cuba, com a reforma agrária, com a reforma urbana, com a fundação da Casa das Américas, com a soberania diante do imperialismo, com a proclamação da Revolução como uma Revolução Socialista, com a resistência contra a tentativa de invasão da Baia dos Porcos, com a resistência diante da tentativa dos EUA de cerco naval à Ilha, com tudo o que vinha de lá, que nos alentava e nos apontava caminhos.

Quatro homens barbudos, vestindo uniforme militar, em cima de um jipe.

“Não nos enganemos achando que adiante tudo será fácil; talvez tudo seja mais difícil”, Fidel na entrada triunfal em Havana em 1959

Só fui ver Fidel quando ele visitou o Chile, durante o governo do Allende. Nas várias visitas que ele fez ao país, até seu discurso final, no Estádio Nacional. Depois, logo depois do golpe no Chile, pude me encontrar com ele pela primeira vez, em Havana, para discutir as consequências do golpe.

Inesquecível vê-lo entrar, enorme, alto, enérgico, simpático, afetivo. Ver como ele tinha infinita capacidade de ouvir as pessoas, de perguntar muito, sobre o Chile, sobre o golpe, sobre Allende, sobre Miguel Enriquez e o MIR, sobre o Brasil.

Tive o privilégio de conviver com sua presença na vida cubana durante muitos anos, conhecer como um dirigente se interessa sobre todo o cotidiano do país e do mundo, se pronunciar o tempo todo sobre todos os problemas, ser o mais radical crítico da própria Revolução, implacável com os erros, mas sempre apontando alternativas e despertando esperanças.

Tê-lo presenciado falar na Praça da Revolução tantas e tantas vezes é das experiencias mais impressionantes que alguém pode ter. Numa dessas concentrações, sempre para milhões de pessoas, se homenageavam os mortos na derrubada de um avião cubano por uma ação terrorista, que matou, entre outros, a toda uma equipe esportiva cubana. Com todos os caixões presentes na Praça, Fidel fez um dos seus discursos mais emocionantes, que concluía dizendo:

Foto em preto e branco de dois homens jovens, barbados, com uniforme militar.

“Quando um povo enérgico e viril chora, a injustiça treme”, Fidel na Praça da Revolução, em 1976. Na foto, ao lado de Che Guevara.

“Quando um povo enérgico e viril chora, a injustiça treme”.

Para provocar as lágrimas daqueles cubanos que se deslocavam de todos os lugares para ouvi-lo falar durante horas e horas ao sol.

Ele sempre surpreendeu a todos com sua audácia. Desde aquela primeira, do assalto ao quartel Moncada, ao desembarque do Granma, até as iniciativas posteriores, já desde o poder, valendo-se do mesmo fator surpresa da guerrilha. Quando abriu as portas de todas as embaixadas, para que os que quisessem ir embora de Cuba, fossem. Permitindo que chegassem embarcações de Miami para recolhê-lhos. Um gesto audaz, que ele soube reverter a favor da Revolução, como tudo o que ele fazia.

Quando proclamou que o menino Elian seria recuperado por Cuba, objetivo que parecia impossível, mas que ele, incutindo em todos uma imensa confiança, conseguiu. Quando ele afirmou que Cuba recuperaria os 5 heróis presos nos EUA, o que parecia absolutamente inviável, mas ele soube construir, uma vez mais, a estratégia vitoriosa para conseguir uma vez mais o impossível.

Fidel foi o sinônimo de Revolução mais de 50 anos. Quem quisesse saber da Revolução e do Socialismo, tinha que olhar para ele. Ele, junto com o Che, apontaram para tantas gerações o horizonte do socialismo, da revolução, do compromisso militante.

Fidel foi a personificação da Revolução e do Socialismo. Sua vida e suas palavras soaram sempre como a voz mais forte, mais digna, mais vibrante, mais esperançosa, mais corajosa, que a História contemporânea conheceu.

* Texto do sociólogo e cientista político Emir Sader, publicado no blog Brasil 247 (acesse aqui)

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1 Comentário

  1. Baron 07/12/2016 Responder

    Fidel foi um ditador sanguinário que matou dezenas de milhares de compatriotas cubanos. Egocêntrico por nascimento, não permitiu a ninguém discordar de suas idéias.
    O assassino Comandante arde no inferno !

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