Criança de costas, caminha próximo a um precipício. No alto, árvores

Não tire os olhos do seu filho autista!

02/03/2017 Deficiência Intelectual, Notícias 0
Garotinho sorrindo, em uma piscina, com boias nos braços e uma redonda, no peito

Miguel já escapou dos cuidados dos pais e pulou, sozinho, em uma piscina

Qual criança nunca aprontou uma arte de deixar os pais de “cabelo em pé” de preocupação? Nossos pequenos autistas tendem a aprontar um pouquinho mais e isso requer uma atenção intensa sobre nossos filhos. E, acredite, não é exagero. Geralmente, eles são muito rápidos e basta poucos segundos de descuidos para aprontarem uma daquelas. Eu não vou ficar falando na parte científica de pesquisas porque acho isso um pouco chato ficar lendo todos aqueles números. O que realmente importa é que o perigo é real e precisamos ficar sempre de olhos muito bem abertos nos nossos pequenos. Uma das características do autismo é, justamente, a falta de noção do perigo, que não reconhece situações em que possa se ferir, não tem medo de altura e a ausência ou pouca sensibilidade à dor fazem com que, até mesmo se a criança se machucar, não chore de dor.

Aqui em casa, eu já tive um praticante de Le Parkour (técnica desenvolvida na França para que o indivíduo ultrapasse qualquer obstáculo, usando apenas suas aptidões físicas). Ele pulava do sofá para a mesa de jantar, para uma cadeira, para a escrivaninha do computador e para o que mais estivesse por perto, sem falar nas vezes em que subia nas janelas. Enfim, ele adora alturas até hoje, mas já deixou de fazer algumas travessuras. Mas, não posso descuidar nunca. Esses dias, fui tomar banho e o deixei assistindo TV. Quando voltei (isso porque tomei banho com a porta aberta, conversando com ele o tempo todo para tentar mantê-lo por perto), ele já estava dentro do tanque e, então, não deixo mais nem mesmo para tomar banho. Tenho que esperar meu marido chegar. E assim é a minha vida de mãe de um garotinho lindo, sapeca e autista. Quem não conhece o autismo, pode me julgar uma mãe super protetora, mas eu sei que não posso descuidar do meu filho.

Quando saímos na rua, se tenho que ir sem meu marido para me ajudar, eu prefiro usar a polêmica mochila com contenção. Pelo menos, sei que ele não vai sair correndo no meio da rua sem que eu possa alcançá-lo. Ele é muito rápido e, ao menor descuido, ele pode ir correndo sem uma direção certa ou, se eu passar em frente a um lugar que ele goste, com certeza ele vai correr para entrar, mesmo se estivermos do outro lado da rua. O Miguel também é apaixonado por carros e pode muito bem acabar entrando na frente de um por querer se aproximar, mesmo que ele esteja andando. Outra situação de perigo é com água. Infelizmente, vemos muitos e muitos casos de crianças autistas que morreram afogadas. Os números de casos são alarmantes. O Miguel tem fissura por água, ama água e quer brincar, seja em uma pequena poça de água ou em uma piscina gigante.

No casamento da minha irmã, enquanto eu fotografava, em dois segundos de descuido do meu marido, ele pulou na piscina. Ainda bem que tinha uns adolescente na piscina que o pegaram até meu marido chegar. Ele parece um peixinho, tem atração pra água. Outro perigo é que autistas podem sair a vagar erraticamente e colocar-se em perigo em potencial e isso é umas das grandes causas de mortes de autistas. Eles podem fugir, mais comumente, de casa, de uma loja ou da sala de aula. Esse impasse pode ter foco na intenção de ir a algum lugar ou fazer algo, pois podem estar confusos ou perdidos. Infelizmente, isso pode causar lesões por acidentes de trânsito ou afogamento, entre outras calamidades. Eles ainda têm dificuldade em distinguir a diferença entre pessoas familiares e estranhos e ter mudanças de humor repentinas.

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Também estão mais propensas a reagir de forma exagerada a situações e pessoas, se irritarem rapidamente e a entrar em pânico quando confrontados com a mudança ou novas situações. Para agravar o problema, a maioria dessas crianças não é capaz de comunicar seu nome, endereço ou telefone. Aqui, o perigo com o Miguel também é um desses fatores. Tenho medo que, se alguém parar o carro e chamá-lo, ele entre, mesmo não conhecendo a pessoa, só para andar de carro que adora. Passamos já um susto enorme em um dia em que estávamos eu, meu marido e o Miguel em um passeio em um pequeno shopping de lojas populares aqui em Londrina. Paramos em uma loja para meu marido comprar uma mochila e eu segurando o Miguel (naquele dia, não tínhamos levado o contentor). Meu marido pediu para eu ver se a bolsa era de boa qualidade. Então, soltei o Miguel e falei para ele assumir enquanto olhava. Foi o tempo que peguei a bolsa e olhei. Meu marido não estava segurando o Miguel, perguntei por ele já com o coração na mão, porque conheço o meu filho, e já saí da loja para procurar. Meu marido foi para um lado e eu para outro e nada de vermos o Miguel. Entrei em desespero e falei com os seguranças do lugar enquanto cada um ia pra um lado procurar o Miguel.

Garotinho em uma piscina, com boias nos braços e uma redonda, no peito

Miguel é louco por água

Mil coisas passaram por minha cabeça e posso te falar que foi a pior sensação e os piores momentos da minha vida. Depois de acho que uns cinco minutos que, pra mim, pareceram cinco horas, passei por uma loja de brinquedos e ouvi alguém me chamando pelo nome. Quando olhei, era uma amiga, mãe de menininho autista que faz as terapias no mesmo lugar que o Miguel, que estava trabalhando nesse loja. Ela me perguntou se eu estava procurando o Miguel e me levou até ele, que estava sentado no chão, tranquilamente, brincando com um caminhão. Foi por Deus aquela amiga estar trabalhando temporariamente naquela loja. Claro que por ser de brinquedo chamou a atenção do Miguel, mas ele a reconheceu também e por isso ficou lá tranquilamente. Mas, foi o pior dia da minha vida.

Dentre todos esses perigos, ainda existem os dentro da própria escola se ela não estiver preparada para fazer uma verdadeira inclusão. Pode acontecer bullying, apanhar de colegas ou serem deixados por último na escolha de uma equipe ou até mesmo o isolamento e restrição de movimentos que podem incluir aparelhos que podem causar graves lesões no autista. E está aumentando o número de casos de afogamento na hora da alimentação, muitos porque a escola deixa a criança comer sozinha e muitas apresentam dificuldades até mesmo para engolir. E ainda sofremos com o medo de abuso sexual, que já é difícil para uma criança tipica contar, imagina para um autista com dificuldades ou ausência de fala. Por isso, não podemos descuidar nunca e, para prevenir alguns desses risco, existem algumas atitudes nossas que podem ajudar nossos filhos.

Existem pulseiras e eu até já fui ver pra mandar fazer pro Miguel. Pode ser de ouro ou de prata e você manda gravar o nome, o telefone dos pais e até endereço e não fica caro. Uma de prata, eu vi a partir de R$ 60,00. Vendo o custo/beneficio, acho que vale muito a pena. Se você tiver condições, coloque seu filho na natação. A maioria das crianças autistas ama água e, além de ser uma diversão, ela ainda vai aprender a nadar e consequentemente diminuirá os riscos por afogamentos. Se você for a uma piscina e ele não sabe nadar, você pode usar uma boia redonda e as de braço, como o Miguel está na foto, porque não tem perigo da criança afundar. Usamos assim no Miguel e aqui conseguimos com sucesso porque ele podia ficar sozinho, não precisávamos segurar. Claro que pode não funcionar com seu filho, não sabemos das particularidades de cada um.

Se seu filho já for grandinho e entender bem o que você fala, ensine que ninguém pode tocar em suas partes íntimas, a não ser você e quem te ajuda a cuidar dele. Faça umas visitas surpresa à escola e fique atento às mudanças de comportamento do seu filho. Pense na possibilidade de usar um contentor, embora algumas pessoas sejam extremamente contra, eu acho que vale a pena se o risco é maior que a sua resistência em usar. Não adianta fechar os olhos e achar que nunca irá acontecer! O importante é prevenir e prestar muita atenção nos detalhes comportamentais dos nossos filhos, típicos ou não! Não adianta acharmos que nunca vai acontecer conosco, acharmos que a nossa proteção sempre será suficiente se não estivermos prontos a sempre aprender mais. Precaução nunca é demais!

* Conheçam aqui nossa coluna Autismo – O Espectro, de Fernanda Cavalieri
** Matéria e fotos do site Diferente, e daí? (clique aqui)

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