Sem trabalho, não dá pra ser feliz

22/07/2017 Articulistas, Deficiência Intelectual, João Eduardo, Notícias 1

“Um homem se humilha
Se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida
E vida é trabalho
E sem o seu trabalho
Um homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata
Não dá pra ser feliz”

Fernanda Honorato, da TV Brasil, é a primeira repórter com síndrome de Down do país

Esta é a décima segunda coluna de uma série em que venho compartilhando com os leitores do Sem Barreiras minhas experiências no convívio de mais de uma quinzena de anos com pessoas com síndrome de Down, seus parentes e profissionais envolvidos com a temática. E é com muito prazer que inicio essa conversa sobre o Trabalho e sua importância na qualidade de vida desses indivíduos.

Os guerreiros Gonzaguinha e Fagner marcaram as lembranças dos anos 80 com os versos entusiasticamente repetidos na belíssima canção com que iniciei esta coluna. O Trabalho confere dignidade ao ser humano, dá um sentido à sua vida, ocupa seu tempo com uma missão a ser cumprida. Viver da caridade ou na dependência de outrem na maioria das vezes não é uma escolha, mas uma resignação a um estado de coisas em que não se tem outras opções.

Existem outras opções, mas elas precisam ser construídas pela sociedade. Uma sociedade só pode ser considerada civilizada se consegue disponibilizar para todos os seus cidadãos todos os aspectos considerados importantes para uma vida saudável: educação, saúde, lazer, trabalho e moradia digna. No estado vergonhoso que o Brasil se encontra em 2017, isso pode parecer utópico demais, mas não pode sair da visão de futuro de todas as pessoas de bem desta nação.

Como a nossa conversa é voltada para pessoas com síndrome de Down, precisamos entender as especificidades do Trabalho para este público em particular. Mas eu não poderia introduzir este tema sem voltar para uma discussão inicial desta série: será que alguns cidadãos podem trabalhar e outros não? Será que existem graus na SD? Existem níveis para esses indivíduos?

Eu peço licença aos autores para compartilhar uma explicação super didática sobre o tema, recomendo a leitura desse material aqui.

Esta é a questão principal: Todas as pessoas com síndrome de Down podem trabalhar? Bem, a resposta está em cada indivíduo. Não são todas as pessoas do planeta que podem trabalhar, mas todas seguramente têm uma missão a cumprir. Se receberem a educação formal e social proporcionada a todos os demais indivíduos, seguramente terão mais chances de encontrar um trabalho que lhes dê prazer e que ainda contribua com sua renda familiar.

Não é fácil mudar a visão de uma sociedade, concebida a partir de observações sobre o passado. Há pouco mais de trinta anos a regra ainda seria a internação de pessoas com a SD em instituições especializadas, em tempo integral ou parcial. A regra era ‘esconder’ aquela mácula surgida naquela família, marcada por uma deficiência em um de seus membros.

Talvez seja necessário relembrar este passado com freqüência para que a sociedade possa, de uma vez por todas, exorcizar este tipo de pensamentos. Por que infelizmente ele ainda existe em parte considerável de nossa sociedade, em sua família, na sua vizinhança, na escola de seus filhos ou no seu trabalho: existe o preconceito de que as pessoas com SD não tem capacidade de levar uma vida ‘normal’, uma vida como a de todas as outras pessoas.

Sim, a palavra é preconceito. E a primeira coisa que precisamos fazer para enfrentá-lo é entender que TODAS AS PESSOAS, com ou sem síndrome, tem potencial para exercer uma missão, para executar um trabalho. E este trabalho é fundamental para que ele tenha dignidade, para que se sinta útil, para ter um papel na sociedade.

Eu sei, não é fácil. Mas o primeiro passo é entender que sim, é possível. E conhecer a realidade de centenas, talvez milhares de adultos com síndrome de Down que hoje se encontram inseridos no mercado de trabalho ou tem sua renda assegurada por um negócio próprio, são empresários. Surpreso? Vou citar alguns exemplos.

Que tal uma vereadora na Espanha? Ángela Bachiller tornou-se a primeira vereadora com síndrome de Down do mundo, tomando posse aos 29 anos de idade na Câmara de Valladolid em 29/07/2013. É pouco para você? Quantas pessoas de sua família ou do seu círculo de amizades têm potencial para assumir uma posição dessas?

E repórter, você conhece quantos? Já pensou em exercer uma profissão de tal importância? Você sabia que Fernanda Honorato foi a primeira repórter com SD no Brasil, trabalhando na TV Brasil desde 2006? Fernanda também é dançarina e atleta da natação, currículo que a levou para o sofá do Programa do Jô em 2009.

E a universidade, seria possível para uma pessoa com uma deficiência intelectual, como a SD? Claro que sim! Guilherme Campos se formou em Gastronomia em dezembro de 2016, na Universidade Anhembi Morumbi. Ele estudou em escola regular e se inscreveu no vestibular sozinho, sem contar aos pais. O desafio é conseguir um emprego, este é o tema desta coluna.

Caso isolado? Procure na internet, notícia de 21/03/2017: Brasil já tem cerca de 40 alunos com síndrome de Down nas universidades (aqui). Segundo pesquisa feita pela Universidade de Harvard, pessoas sem deficiência que estudam em salas de aula inclusivas têm opiniões menos preconceituosas e são mais receptivas às diferenças. Já os alunos com Down apresentaram uma melhora acentuada na linguagem e na memória.

Mesmo assim, diante de tantos fatos divulgados em redes sociais ao redor do mundo, ainda existem pessoas preconceituosas, como a jornalista e blogueira pernambucana que em março deste ano, 2017, comparou crianças com síndrome de Down à filhotes de cachorro, dizendo “que só falam em namorar e casar…”. Triste, lamentável, mas incrivelmente verdadeiro.

Atores, empacotadores, professores, músicos, eles estão em toda a parte. Concluo agora com o essencial: a sociedade precisa conhecer, respeitar e apoiar o desenvolvimento do imenso potencial de trabalho que as pessoas com síndrome de Down possuem. Eu tenho alguns cases particulares para compartilhar com vocês, e o farei na próxima coluna.

Dúvidas, sugestões, críticas? Escrevam pra gente. Abraços.

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1 Comentário

  1. LUCIANA A CIDADE 18/09/2017 Responder

    olá, João sou a Luciana de Londrina no Paraná e sou tia de uma garotinha com Down de 12 anos . Hoje , minha irma e eu nos deparamos com um site , que se diz capacitado para falar do assunto e olha o que eles escreveram .
    https://dle.com.br/component/content/article/13-doenca/217-sindrome-de-down
    Eis só o 1 paragrafo: A Síndrome de Down (vulgarmente conhecida como mongolismo) é uma doença causada pela presença de um cromossoma a mais nas células do bebê.
    O nascimento de um bebê afetado pode ocorrer em qualquer idade, embora o risco aumente com a idade materna. Esta síndrome em 95% dos casos, resultante da trissomia simples do cromossomo 21 (T21), é a mais freqüente causa de retardo mental de origem genética, afetando 1 em cada 800 nascidos vivos.
    DOENÇA ????????? COMO ASSIM ??????? DOENÇA ?????? MONGOLISMO ?????????
    EM QUE SECULO ELES ESTAO ????????
    POR FAVOR PEDIMOS QUE VC TBEM ESCREVA PARA ELES , ELES PRECISAM RETIRAR ISSO DO AR , E TBEM ESPALHE PARA MAIS PESSOAS É UM ABSURDOOOOOOOOO.
    OLHA O QUE MINHA IRMA ESCREVEU PARA ELES :
    Sou mãe de uma menina com síndrome de Down, minha filha tem 12 anos. Aconselho firmemente como mãe e cidadã, que os conceitos e “preconceitos” explicitados nesse site sejam imediatamente revistos. Há absurdos que podem sem duvida trazer sérios prejuízos para pais que buscam informações de qualidade.
    Gostaria de saber de onde foi tirada a “informação” …(copio e colo a “pérola” que vcs colocam logo no primeiro paragrafo )..”A Síndrome de Down (vulgarmente conhecida como mongolismo) é uma doença causada pela presença de um cromossoma a mais nas células do bebê.” DOENÇA ???? em que seculo vcs estão ????
    Para o bem das pessoas que buscam informações de qualidade..por favor tirem esse besteirol do site !!!
    Aguardo um retorno !!!

    A PAGINA DELES É ESTA: Institucional
    Há 3 décadas o DLE Medicina Laboratorial iniciou suas atividades realizando triagem neonatal e investigação diagnóstica para erros inatos do metabolismo. Desde então, tornou-se referência no setor e prosseguiu sua trajetória de sucesso ampliando seu escopo de atuação para os campos de genética molecular, citogenética, bioquímica genética e exames raros dentre outros. Possui como seus principais diferenciais o foco de áreas de atuação e o pioneirismo tecnológico no diagnóstico clínico.

    Com uma missão bem definida, oferecemos soluções globais práticas, em análises especializadas e em informações científicas atualizadas, para atender às necessidades específicas de laboratórios farmacêuticos, operadoras e prestadores de serviços de saúde e ao cliente referenciado.

    O DLE Medicina Laboratorial tem como política da qualidade assegurar a satisfação de seus clientes por meio de conscientização de seus colaboradores, da qualidade de seus serviços e de seu compromisso com os padrões éticos e das mais modernas tecnologias a serviço da medicina. Para garantia de sua política de qualidade, possui certificações (ISO 9001:2008) e acreditações (PALC-SBPC/ML e DIQC/SBAC); além de amplo portfólio de ensaios de proficiência nacionais e internacionais (PELM, PNCQ, CDC, PEEC, ERNDIM).

    OBRIGADA , CONTAMOS COM VC.

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