Foto em close de um garotinho com os dedos nos dois ouvidos. Ao fundo, uma grade e um jardim com um guarda-chuva cor de rosa à direita

Menino de 8 anos conta como é ter Síndrome de Asperger

13/01/2018 Deficiência Intelectual, Depoimentos, Histórias de vida, Notícias 0

“Ter Asperger não é uma doença. Não sou louco, nem freak, nem esquisito. Só que minha maneira de receber e processar a informação é diferente”, conta Federico García Villegas à câmera. Em um mês, o vídeo em que o menino colombiano de 8 anos explica, em primeira pessoa, como é sofrer dessa Síndrome superou 7,5 milhões de reproduções no Facebook.

Além de ajudar a gravar o testemunho, a mãe Andrea Villegas gerencia a conta do Facebook Soy diferente, soy como tú (Sou diferente, sou como você – aqui), que serve como rede de apoio para pais com crianças Asperger e conta o dia a dia do menino. “Federico sentia necessidade de se explicar porque se sentia incompreendido por seus colegas de escola”, diz Villegas ao Verne, por telefone. “Primeiro, escreveu um conto, daí decidi abrir um perfil nas redes sociais para falar de uma condição que é muito pouco conhecida”.

A colombiana afirma que, há anos, tenta explicar a seu filho o que acontece com ele “para que possa ter mais ferramentas na vida”. O que se vê no vídeo é o resultado dessas explicações, “contadas com suas próprias palavras”.

“Sou um menino como qualquer outro, com sonhos e esperanças. Só quero que me conheçam, me entendam e me ajudem a me encaixar na comunidade. Nossos sentidos são mais aguçados. Eu ouço todos os sons ao mesmo tempo. Por isso, às vezes, fico em choque e me sinto sobrecarregado”, conta. “Se quiser que eu saiba algo, use palavras. Não entendo muito bem a linguagem não verbal”.


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Da Colômbia para o Chile

A ideia inicial era postar no Facebook e no YouTube para que seus vinte colegas de turma pudessem ver. A chilena Pamela Zavala, com um marido e três filhos com Síndrome de Asperger, viu a gravação e decidiu compartilhá-la em sua timeline, a partir de onde se popularizou. Desde sua publicação, em 25 de novembro, a postagem teve 274.000 compartilhamentos e mais de 70.000 reações.

“Mostrei o vídeo ao meu filho de 10 anos e, pela primeira vez, sentiu-se refletido em outra pessoa. Faltam tolerância e empatia para as pessoas com Asperger, além de mais informação e ajuda do Estado. O Asperger não é uma doença”, diz Zavala ao Verne.

“As crianças com essa condição podem ser hipersensíveis a certos ruídos, cores, texturas… então, se bloqueiam e se comportam de um jeito que parece birra. Há quem interprete esse comportamento como má-criação e acham que precisam de mão dura”, explica Zavala. “Por isso, nós, os pais, frequentemente, também nos sentimos julgados e incompreendidos. Na verdade, só precisam de um pouco de atenção extra”.

Andrea Villegas, mãe de Federico, diz que tentou explicar ao menino o impacto de seu vídeo. “Tentei dizer a ele que foi ouvido por mais pessoas do que o total de habitantes de nossa cidade Cáli e lhe mostrei algumas mensagens”, conta, da Colômbia. “Mas, não tenho certeza se entendeu a magnitude do que conseguiu”.

Características do Asperger – Uma pessoa com Asperger, diferentemente dos casos de autismo, “tem um quociente de inteligência dentro da média e adquire a capacidade da linguagem na idade normal”, explica, por telefone, Araceli Martín, coordenadora da Associação Asperger Madri.

“A ideia de que são gênios superdotados é um mito. Uma coisa que os distingue dos outros é que se apaixonam e ficam obcecados por alguns assuntos. Isso permite que se destaquem em alguns campos que requerem treinamento, como profissões relacionadas com a música e a memória”, diz Martín.

A coordenadora da Associação Asperger Madri diz que, por outro lado, falham nas habilidades sociais porque “são muito rígidos, não costumam entender a comunicação não verbal e têm pouca tolerância para o que não se encaixa nos patrões estabelecidos. Por isso, têm dificuldade em compreender o mundo em que vivemos”.

Se são tratados por especialistas desde pequenos, podem aprender muito melhor a se desenvolver nesse mundo que não entendem. “Mas, é nas relações de longa duração que lhes custará mais ser Asperger porque entrarão mais fatores imprevistos aos quais não saberão como reagir”, diz Martín.

* Texto de Héctor Llanos Martínez, do jornal El País.

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