#pracegover: Arte horizontal, com cores branco e lilás, em degradê. No alto, à esquerda, a imagem horizontal da logomarca do site Caleidoscópio, com o nome escrito em preto por cima de um círculo azul. Ao lado, as palavras BATE-PAPO COM LEANDRA, em branco com sombra negra e a última palavra em lilás com sombra negra. Embaixo, a frase, em branco, A JORNALISTA E ESCRITORA QUE LUTA PARA EXISTIR. No rodapé, à esquerda, todo em branco, as palavras: LEANDRA MIGOTTO e, embaixo, JORNALISTA, CONSULTORA E PALESTRANTE EM INCLUSÃO E DIREITOS HUMANOS. Ao lado, no canto inferior direito, um círculo em degradê de lilás e branco e a foto do rosto de uma mulher sorrindo, ao centro.

Ser MULHER e ter uma deficiência

09/03/2018 Deficiência Física, Depoimentos, Histórias de vida, Leandra Migotto, Notícias 3
Mulher em pé com apoio de uma muleta, vestindo uma roupa preta sensual, olhando para câmera, rindo com um olhar de desejo. Seus cabelos estão soltos e são castanhos, assim como seus olhos. A fotografia está em preto e branco em um fundo liso e branco com a sombra da imagem.

Leandra Migotto posa com uma lingerie preta e suas muletas

Mais um Dia Internacional da Mulher chega e desafio quem aponte mudanças EFETIVAS em relação à AMPLA invisibilidade das mulheres com deficiência! Segundo dados da Organização das Nações Unidas, 40% das mulheres com deficiência no mundo passam, em algum momento da vida, por violência doméstica. Sendo que 16% já foram vítimas de estupro. E segundo a Organização Mundial de Saúde as mulheres com deficiência têm de duas a dez vezes mais chance de sofrer violência.

Em nosso país, segundo a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos em 69% dos casos, a violação ocorre dentro de casa. Entre as mulheres com deficiência vítimas, 25% são jovens de 18 a 30 anos. Sendo que 56% delas se identificaram como pretas ou pardas, enquanto 43% como brancas.

Durante meu pouco tempo de vida (41 anos), e também pouco mais intenso tempo como jornalista (desde 1998), constatei que a maioria das mulheres (por mim entrevistadas), passaram e ainda passam como completas INVISÍVEIS! E principalmente as que possuem menos recursos financeiros!

Afirmo isto porque estas mulheres, além de não terem acesso às leis (que deveriam garantir seus direitos), aos serviços públicos de educação, saúde, trabalho (que deveriam proporcionar autonomia); na maioria das vezes, ainda passam também por situações de baixa auto-estima e dificuldades de compreender e saber lidar com a sua condição de deficiência, seja ela intelectual, física, auditiva, visual, múltipla, surdocegueira ou mental.

Fato este que na maioria das vezes, pode dificultar e muito a relação da mulher com deficiência com sua família e amigos; ambiente de saúde, trabalho e cultural; proporcionando gravíssimas e gigantescas situações terríveis de discriminação e preconceitos, desde os mais sutis aos mais destruidores, como as violências sexuais. Aliado a estes fatores está a grande mídia que ainda reforça estereótipos de uma ‘mulher-padrão’ que simplesmente não existe no Planeta Terra.

Por isso, as mulheres com deficiência que conseguem vencer e ultrapassar este terrível círculo vicioso da INVISIBILIDADE E DA VIOLÊNCIA diária, ao dar a cara nas ruas sem nenhuma (ou pouquíssima) acessibilidade; matar um leão por dia no ambiente de trabalho extremamente excludente; enfrentar com garra e coragem as nojentas e abomináveis críticas sobre ser ou não mãe (de filhos com ou sem deficiência) ou APENAS DECIDIREM NÃO TER FILHOS; viverem felizes com suas condições de gênero e orientações sexuais em uma sociedade tão HOMOFÓBICA; combaterem fortemente e DENUNCIAR todas as situações de RASCISMO que ocorrem em todos os lugares; entre outras GRANDES VITÓRIAS; devem ter sempre suas histórias contadas e VISIBILIZADAS!

É por isso que neste mês, eu conto um pouco da minha história em relação a descoberta da minha deficiência dentro da minha condição de mulher. E convido a todas as mulheres com deficiência leitoras desta coluna a enviarem suas histórias para o e-mail do Sem Barreiras! Afinal, JUNTAS SOMOS MAIS FORTES!!!

DISQUE 180 PARA DENÚNCIAR ABUSOS E CRIMES CONTRA AS MULHERES COM OU SEM DEFICIÊNCIA!

O corpo de uma mulher é múltiplo

A mulher é um universo profundo. Comecei a mergulhar nela aos 30 anos, quando meus desejos se afloram. Meu corpo sempre foi fraco, intocável. Meus desejos sempre estiveram no mais profundo poço do inatingível.

Pecado tocar. Errado querer. Feio. Todos apontam. Todos comentam. Todos olham. Eu nunca pude dizer há que vim. O que sou. O que desejo. O que espero. O que luto. O que preciso mostrar.

Sempre fui tolhida. Sempre fui quebrada. Sempre senti dor. Sempre me senti presa a um corpo infantilizado. A um meio corpo. A uma meia criança-menina- mulher. A algo indefinido.

Hoje, quebro. Mas, não o corpo. O que ele realmente é. A massa una entre alma e carne. Entre desejo e pudor. Entre vida e morte. Entre explosão e dor. Entre prazer e abrigo. Entre eu e muitas pessoas que moram em minha alma.

O corpo de uma mulher é múltiplo. É preciso mostrar ao mundo cada pedacinho que pulsa em corpos diferentes. São bocas em cabeças tortas, pernas grossas e curtas, bumbum arrebitado e torto, coxas arredondadas e cheias de ruguinhas infantis, púbis ardendo de tesão, seios pequenos em um tronco pequeno demais.

Não há cintura, não há quadril definido. Não há pernas finas e compridas. Não há balanço dos quadris. Não há andar sensual. Não há mini saia que leva ao mistério escuro como o céu que agora está em minha janela.

Não há uma mulher padronizada, robotizada, perfeita! Não há o esperado. Há outra possibilidade de ser mulher inteira com todos os sentimentos e sentidos que pulsam do corpo de alguém que sempre foi quem é.

Amar e ser amada trouxe força a minha alma para conseguir se libertar do corpo da sociedade que sempre me toliu. Da mãe interna que sempre me proibiu de ser eu mesma. Da mãe externa que sempre teve medo de me ver despedaçada.

Eu não posso engravidar, mas tenho o direito de ser mãe tendo uma deficiência física! Eu não posso dançar flamenco e tango, mas tenho o direito de me arrepiar quando vejo os corpos se unirem com a alma, a cada passo dos bailarinos.

Queria estar no lugar de quem tem um corpo diferente do meu. Tenho o direito de desejar ser outra pessoa, e como é bom! Não preciso bancar a conformada, aceitar a roupa de heroína (que me colocaram) ou me afundar no poço da depressão. Escolhi o caminho do meio.

Eu não posso fazer amor com tanta volúpia e em posições que sempre sonhei; mas, posso ter orgasmos estupendos! Eu não posso sentir meu corpo mudar, ao abrigar um novo ser em meu ventre, mas posso amar – incondicionalmente – as crianças que habitam e irão habitar o meu coração. Eu não posso amamentar um bebê quentinho em meus braços, mas tenho muita seiva escorrendo, pelos fios da minha alma, para alimentar espíritos sedentos.

Mais informações sobre Mulheres com deficiência:

https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/12/07/pauta-feminina-novos-dados-dimensionam-a-violencia-sexual-contra-a-mulher-com-deficiencia

https://coletivomulheresinclusao.blogspot.com.br/2017/03/mulheres-negras-deficiencia-e.html

https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-12/acesso-canal-de-denuncia-de-violencia-e-desafio-para-mulher-com

Pessoal, não esqueçam de conhecer a minha trajetória profissional em meus dois blogs: o Caleidosópiohttps://leandramigottocerteza.blogspot.com/ e o Fantasias Caleidoscópicashttps://fantasiascaleidoscopicas.blogspot.com/

Perfil profissionalhttps://www.linkedin.com/pub/leandra-migotto-certeza/41/121/a

Vídeos: TV UNESPhttps://youtu.be/-Nrr1kn-zWI

TV UNESP Programa Artefatohttps://www.youtube.com/watch?v=OtwnqFchqmY&t=8s

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3 Comentários

  1. Dalva Pereira 09/03/2018 Responder

    Força e coragem é o teu nome!
    Parabéns pelo seu derramar tão pleno de desejos que você não tem medo de buscar e realizar.
    Abração

  2. Rosemary 16/03/2018 Responder

    Vou ver, obrigado!!

  3. Anrike 19/03/2018 Responder

    Muito obrigado!

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