Mulher cega caminha por um corredor, com uma bengala, sobre uma superfície tátil amarela, especializada para deficientes visuais.

Faculdade adapta prédio para aluna cega

13/07/2019 Deficiência Visual, Notícias 0
Mulher cega sentada em uma cadeira escolar, com sua bengala no colo.

Tainah Gonçalves é cega e faculdade de Avaré (SP) passou por adaptações depois que ela se matriculou no curso de psicologia.

Pisos táteis, corrimão adaptado e rampas de acesso são apenas algumas mudanças que uma faculdade de Avaré (SP) passou para se tornar acessível para os alunos com deficiência física.

Mas, toda a transformação aconteceu quando Tainah Gaspar Gonçalves se matriculou no curso de psicologia. Ela é cega e a faculdade percebeu que não tinha estrutura para atender aos alunos que possuíam algum tipo de deficiência.

“Quando eu entrei na faculdade, eu enxergava 5% do olho esquerdo e não precisava da acessibilidade. Mas perdi minha visão no meio do segundo ano e por isso o pessoal fez essa mobilização pra resolver”, conta Tainah em entrevista ao G1.

Foram feitas reformas nos banheiros, mudanças no estacionamento, implantadas placas em braille e computadores com acessibilidade na biblioteca da unidade. Mas as mudanças não foram apenas arquitetônicas.

Segundo David Marconi Polonio, coordenador do curso de psicologia da faculdade, também foram realizadas mudanças pedagógicas e comportamentais para a inclusão tomar conta do dia a dia não só da Tainah, mas dos demais alunos da instituição.

“Em contato com a Tainah eu percebia as dificuldades dela e então montamos um Núcleo de Inclusão. Além de toda a mudança no prédio, tornamos os materiais acessíveis também. O curso de psicologia tem muito material escrito e quando é em PDF, o programa do computador adaptado lê. Mas em casos de livros impressos, os transformamos em áudio. Temos um grupo dentro do núcleo que chama ‘Janelas e Pontes’, onde os alunos leem o material e gravam”, explica.

Já na sala de aula, em vez do papel e caneta Tainah utiliza o celular para gravar as aulas. Já as provas são feitas oralmente.


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“São muito boas as adaptações, a faculdade está bem preparada para receber outros alunos deficientes também”, ressalta a jovem.

Ainda de acordo com o David, depois da transformação os alunos da instituição estão mais engajados em relação à inclusão porque também são realizadas dinâmicas para sensibilizar as pessoas sobre as dificuldades do dia a dia de um cego, por exemplo.

Oito pessoas com os olhos vendados, ao redor de uma mesa cheia de refrigerantes e guloseimas, participam de uma vivência na universidade, observados por professores sem a venda.

Alunos de faculdade de Avaré (SP) participam de vivências como o ‘Café às Cegas’.

“Nós temos o ‘Café às Cegas’, que é um café da manhã feito para os alunos, mas eles são vendados, trocamos os alimentos de lugar e eles precisam se alimentar às cegas. No início muitos dão risada, mas depois a situação gera um incômodo e abrimos para discussão”, conta. “Eles começam a perceber dificuldades em coisas que nunca imaginariam. É um trabalho de formiguinha”, diz.

A criação da liga de acessibilidade no núcleo transformou o dia a dia, mas também o universo da Tainah.

“Quando ela perdeu a visão, assumiu completamente o protagonismo da vida dela e no núcleo, porque passou a ser protagonista na luta dos direitos dela e de outras pessoas com deficiência. Ela se tornou mais ativa, hoje muita gente a conhece. A Tainah conduz palestras, discussões e isso mudou muito”, afirma David.

Perda da visão
A mãe de Tainah teve toxoplasmose durante a gravidez e a filha nasceu com a doença. Em alguns casos, o protozoário atinge os olhos e a jovem tinha apenas 5% da visão. Mesmo assim, ela levava uma vida normal e frequentava as aulas.

No entanto, o protozoário voltou a atacar quando Tainah estava no segundo ano da faculdade e ela ficou cega.

“Perdi a visão do dia pro outro, tive que aprender a fazer as coisas de novo. No início foi complicado mas agora está tranquilo”, afirma.

“Quando perdi a visão, minha primeira reação foi tentar me acalmar porque não precisava de desespero. Eu fui aprendendo, vendo que não era tão difícil nem era ‘o fim do mundo’”.

* Matéria de Heloísa Casonato, do G1 de Itapetininga e Região

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