#pracegover: Arte horizontal nas cores branco e dourado, em degradê, da esquerda para a direita. No alto, à direita, as palavras, em branco com sombra preta, VAMOS CONVERSAR SOBRE. Logo abaixo, em negro, DEFICIÊNCIA? No centro, à direita, a logomarca do site Sem Barreiras, um quadrado em preto e branco, com o símbolo do site ao centro e a faixa, na diagonal dizendo 5 ANOS. Ao lado do quadrado, as palavras SEM BARREIRAS. No canto inferior direito, as palavras, em negro: ÀS SEXTAS-FEIRAS. No canto inferior à esquerdo, a foto de um homem em uma cadeira de rodas, de óculos, segurando um microfone.

Por que se fala tão pouco de deficiência?

08/06/2017 Articulistas, Deficiência Física, Notícias, Victor Vasconcelos 2

Inauguro o espaço Vamos falar sobre deficiência?, em Sem Barreiras, com uma pergunta que me aflige há tempos. Muitos leitores e, certamente, vários colegas jornalistas irão discordar, mostrando que a imprensa – local e nacional – fala sim de deficiências. Vão dar como exemplo as matérias do Dia Mundial de Conscientização do Autismo (assista vídeo especial de Sem Barreiras sobre a data), do Dia Internacional da Síndrome de Down (assista vídeo especial de Sem Barreiras sobre a data) e por aí vai. Correto, mas é suficiente falar de Autismo e Síndrome de Down somente em datas específicas? Não, não é. Sou jornalista e sei que nossas redações precisam ser provocadas com sugestões de pauta. Contudo, sei também que um jornalista de olho apurado e senso de civilidade não deve ficar enclausurado na redação, esperando por essas sugestões. Ao andar pela cidade, não é difícil imaginar as dezenas, quiçá centenas, de problemas enfrentados, dia sim e outro também, por pessoas com alguma dificuldade de locomoção ou comunicação.

O Dia dos Namorados se aproxima e, ao invés de se fazer as mesmas matérias, já surradas e fedendo a mofo, por que não ousar e escrever sobre namoro de pessoas com deficiência? O Dia das Mulheres contou, neste ano, com uma matéria, no Portal do Jornal O Povo (leia aqui), com um texto sobre as dificuldades enfrentadas, no dia a dia, por mulheres com deficiência, sugestão desse blogue e recebido pela jornalista Sílvia Bessa. Voltando às matérias sobre Autismo e Down, não sou contra matérias nas datas comemorativas. Aponto apenas que essas são as deficiências “famosas”, conhecidas por grande parte do público. A imprensa não pode focar apenas no que as pessoas já sabem ou conhecem alguma coisa. Precisa sair da zona de conforto. Um dos papeis da imprensa é formar opiniões, esclarecer, ensinar. Ao criar Sem Barreiras, meu objetivo foi, dentre outros, desmistificar algumas ideias pré-concebidas sobre pessoas com deficiência. Por exemplo, nós não temos sexualidade, não namoramos, não podemos nos relacionar, formar famílias? Claro que podemos. Daí a sugestão da pauta para o Dia dos Namorados.

O preconceito existe em nossa sociedade. É fato. Engana-se quem vê o preconceito somente em atos concretos – “sai daqui, aleijado”, “não aceitamos gente como vocês”. O preconceito existe quando tornamos a condição de 45 milhões de brasileiros, invisível. Não importa se isso ocorre de forma não proposital. Pessoas com deficiência existem, acordam todas as manhãs, tomam seu café, vão à escola, ao trabalho, ficam em casa porque não têm como sair, almoçam, se divertem, namoram, transam, traem, mentem, choram, riem, dormem. Pessoas com deficiência são pessoas como outras quaisquer e querem ser vistas e notadas. Querem seus feitos conhecidos e reconhecidos por todos e suas dificuldades, denunciadas, debatidas e solucionadas. Mas, como fazer isso se só são lembradas em datas específicas? Quantas pessoas já ouviram falar de condições como Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) ou Amiotrofia Muscular Espinhal (AME) ou Osteogênese Imperfeita (OI) ou ainda quantas pessoas conhecem o trabalho de artistas como Thiago Sandes, cantor autista, ou Bruno Gomes, saxofonista? Fortaleza tem alguma academia de dança em cadeira de rodas?

 

Informe Publicitário

 

Uma das maiores conquistas da categoria foi a promulgação da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), pela então Presidenta Dilma Rousseff, em 2015. O que mudou desde então? Por que esse foi um momento tão importante para nós? A Lei estabelece parâmetros de comportamento, determina que todas as crianças com deficiência tenham o direito de estudar em escolas regulares e muitas outras coisas. As escolas cumprem essa determinação? Já se pesquisou esse assunto? Em setembro próximo, Sem Barreiras realizará o II Fórum Sem Barreiras de Acessibilidade e Cidadania, em que tratará da educação inclusiva. Tópico, altamente, relevante para as redações. Querem mais um, ainda na área educacional? Os Campi de Fortaleza oferecem condições de acesso a pessoas com mobilidade reduzida? Vamos levar um cadeirante, um cego, uma pessoa com aparelho ortopédico para as universidades e ver se eles transitam sem problemas. Vamos passear com eles por nossas calçadas e calcular quantas vezes será necessário ir para o meio da rua, pois a calçada está quebrada ou bloqueada por carro, ambulante ou árvore. Vamos ainda levar um cego ou um surdo aos prédios públicos e constatar quantos oferecem Braille ou sinais luminosos para orientação deles. Tudo isso é pauta. Basta um pouco de criatividade, algumas fontes influentes e muita, mas muita sensibilidade de repórteres e editores.

Estarei ocupando esse espaço todas as sextas-feiras, a partir de hoje, com temas diversos sobre deficiência, minha visão particular deles e sugestões de pauta para a grande imprensa. Convido a todos a voltar, ler e contribuir com o espaço, sugerindo temas e compartilhando para agregarmos mais e mais pessoas a essa discussão. Vamos todos conversar sobre deficiência, afinal Acessibilidade e Cidadania andam juntas.

“Art. 1o É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência),
destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade,
o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência,
visando à sua inclusão social e cidadania”.

Receba um e-mail com atualizações!

Assine e receba, gratuitamente, nossas atualizações por e-mail.

Eu concordo em informar meu e-mail para MailChimp ( more information )

Nós jamais forneceremos seu e-mail a ninguém. Você pode cancelar sua inscrição a qualquer momento.

Compartilhe:

2 Comentários

  1. Leandra Migotto Certeza 10/06/2017 Responder

    Caro Victor, ótimo texto! Claro, objetivo, muito bem escrito, e principalmente cheio de ótimo conteúdo reflexivo. Parabéns! Continue firme! Estou amando o seu portal e fico mega feliz por ser convidada para Colunista. EBA!!! Abraços e aguarde a minha primeira coluna semana que vem.

    • Victor Vasconcelos 10/06/2017 Responder

      Obrigado, Leandra. Muito bom ler seu comentário e será ótimo ter você fazendo parte da nossa equipe. No aguardo pelo seu texto. Grande abraço.

Deixe o seu comentário!

Cancelar Resposta